quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sobre Comenius, piedade, moralidade, instrução e filosofias orientais

Caro Rodrigo,

Realmente Comenius era cristão, protestante, talvez um pouco herético, se analisarmos às suas concepções, as quais o transformaram, de certa forma, no pai da Pedagogia, o amor tornado ciência social. O incluo na assinatura de meus emails por ter influenciado Pestalozzi, que influenciou Allan Kardec, que codificou a "doutrina dos Espíritos", à qual eu me filio atualmente.
Mas, voltemos ao Cristianismo: será ele a moralidade mais fajuta que a espécie já conheceu, ou ainda não conhecemos o "cristianismo" realmente? Com certeza sabemos o que foi feito dos ensinos que Jesus trouxe a este mundo, sobretudo ao ocidente: somos reflexo disso. De fato, estes ensinos são de sobremaneira semelhantes às filosofias orientais que tu citas, das quais também sorvo algum ensinamento, tentando, por exemplo, ser fluido como a água, algo que aprendi no Tao Te Ching, assim como lá aprendi que Deus NUNCA nos será plenamente compreensível, pois é algo que vai além da compreensão. Mas de alguma forma devemos refinar esta nossa incompreensão para até onde nos for possível, naquilo que o Espiritismo vem chamar desenvolvimento da Intuição.
Estes ensinos são semelhantes porque guardam ligação com uma verdade essencial, são emanações desta verdade, a qual chamamos Deus, Tao, Chi. Eis o verdadeiro monoteísmo, e muitos poucos de nós nos apercebemos dele.
Admiro Jesus sobretudo pelo modelo de vida que o Evangelho nos apresenta, algo se se reflete (distorcido pelas imperfeições humanas), em Fransciso de Assis e na Teologia da Libertação, por exemplo: a preferência pelos pobres, pelos fracos da Terra, pelos humildes. Ele (o "Filho do Homem") nos dá a prova inequívoca de que Deus (o Tao, o Chi), nos dá tudo aquilo de que realmente necessitamos, assim como provê aos pássaros e aos lírios, e eis a nova definitiva chaga: a falta de fé no porvir, e descrença no poder do Universo, e a crença única e exclusivamente em nós mesmos, geralmente um nós individualista, que não percebe sequer o próximo ao nosso lado e quanto apoio ele pode nos dar. E assim, amadores que somos, tisnamos o quadro maravilhoso pintado por Deus (o Tao, o Chi).
Daí a necessidade de instrução, para melhor nos conhecermos e conhecermos o mundo que nos rodeia, reflexo exterior de um modo particular de ver a vida. Se essa instrução não nos tornar pessoas melhores, mais justas, mais equilibradas, mais harmonizadas com o sopro divino, de que nos servirá? Se este equilíbrio, esta harmonia, não nos torna mais tolerantes, de que nos serviu?

Enfim, o seu questionamento é a essência de tudo que a frase de Comenuis questiona:
Não seria melhor aprender que tipo de moral realmente é moral?
Recomendo uma leitura aprofundada da Didática Magna, principal obra de Comenius, de onde a citação foi retirada.

"Infeliz a instrução que não se converte em moralidade e em piedade."
Comenius (1592 - 1670)


Obrigado amigo, por este momento de reflexão, que compartilho com os amigos do blog pablosando.blogspot.com.
Paz e Bem.
Pablo

2009/10/21 Rodrigo **** <**********@ig.com.br>:
> Caro Pablo,
>
> não posso deixar de comentar sua frase do Comenius. Antes de querer
> transformar toda instrução em moralidade, não seria melhor aprender
> que tipo de moral realmente é moral?
Fiquei com a impressão
> ("piedade") que esse Comenius é cristão, e infelizmente o cristianismo
> é talvez a moralidade mais fajuta que a espécie já conheceu. Sugiro a
> vc procurar os trabalhos dos orientais, mais especificamente (não
> necessariamente nesta ordem) o budismo, taoísmo e confucionismo. Dão
> uma lavada nesse mar de superstição e "sujeitos bonzinhos" que ora nos
> assola. <Dei uma olhada na Wikipedia> Por melhor educador que ele
> tenha sido, não tenho dúvidas que o monoteísmo divide os povos.
>
> Abraços,
>
> Rodrigo ****.

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