domingo, 3 de maio de 2009

Porque espírita?

Já fui católico,
budista, protestante.
Tenho livros na estante,
todos têm a explicação.
É fim de mês
Raul dos Santos Seixas

Raul tinha toda a razão quando disse "todos têm a explicação". Todos os livros ditos "sagrados" trazem uma explicação razoável (para uma determinada mentalidade) do Divino, do mistério da transcendência humana. Triste é achar que a vida se exingue com o falecimento do corpo. E aqueles que estão certos disso, então?! Tristes expectativas, do passado ao futuro.
Não me admira o mundo estar como está, uma vez que o materialismo, primo-irmão mais velho (talvez até mesmo padrasto) do consumismo secular, ser a idéia dominante na sociedade humana.
Mas, estatisticamente, existem mais espiritualistas do que materialistas, estou certo? Talvez estatisticamente, mas de fato, a imensa maioria de nós somos materialistas, pois agimos como tais. Não adianta dizer que acredita na vida eterna e proceder como "se não houvesse amanhã", desejando "tudo ao mesmo tempo agora", "e que tudo mais vá pro inferno". Quem irá pro inferno seremos nós! Ainda bem que o inferno não existe, ou melhor, é apenas um estado de consciência passageiro.
Por isso, o Espiritismo, que alguns insistem em chamar de Kardecismo, tudo bem. As religiões (ocidentais) antigas prestaram um grande desserviço fazendo Deus à semelhança do homem. As orientais foram bem mais humildes, deixando Deus (ou o Tao, ou o Chi) no limite do incogniscível, e tratando de aspectos mais práticos da vida na Terra ou de sua libertação.
"Fomos criados sua imagem e semelhança", é verdade (todos têm a explicação), mas somos nós que nos assemelhamos a Deus, e não Ele a nós. Claro que homens primitivos, recém saídos da animalidade, criariam um Deus animalizado, vingativo e pessoal, assim como anteriormente, tínhamos visto um Deus em cada aspecto humano ou em cada fenômeno da Natureza (estes estavam mais certos do que os anteriores...). Resumo da ópera? O homem não compreendera a Deus, assim como ainda hoje não o compreende. Foi preciso um enviado das hostes celestiais para nos trazer uma idéia mais aproximada, e nos apresentar o Deus de Amor. Pobre Jesus, o que fizemos com o Arauto da Nova espiritualidade? O "matamos"(extinguimos sua existência física, que nos desvelava as imundícies), nos apropriamos de seus ensinos e os utilizamos para o "mesmo de sempre". Mas pobre homem, que não percebeu que assim Jesus o desejava, pois o lírio haveria de nascer do lodo pestilento de nossos desejos de dominar, de escravizar o nosso irmão. Foi a própria pregação cristã, pregada aos quatro ventos, que denunciou os nossos erros, "e todos creram nele", e duvidaram de nós.
Duvidando de nós, duvidaram de nossas instituições, e o homem se afastou dos templos, esqueceu-se que o templo verdadeiro é a sede do espírito, e se encharcou de carne. Alguns ainda cultivaram uma espiritualidade, mas era importante esquecer a Deus, ao seu filho (Não somos todos?), e colocar o homem, isto que nós conhecemos como ser humano, e os seus potenciais que vislumbramos, em primeiro lugar, para garantir a nossa sobrevivência, talvez,inclusive, para que as coisas se modificassem, mas não tanto. Nasce o Iluminismo, o Positivismo.
Eis que as promessas se cumprem, e "Filho de Deus" manda o Consolador, que já habitava entre nós desde antes da sua vinda, mas era envolto em nuvens. Desta vez, ele vem claro como a luz do dia, ou melhor, audível como pancadas em mesas e paredes. Mais uma vez, o homem (agora desgarrado de qualquer noção de divinização ou transcendência de si) toma o fenômeno para si, e o usa lúdica e despreocupadamente para seu deleite. Mas Deus escreve certo por linhas tortas, e alguém, com o mínimo de juízo, bom senso e espírito investigativo pergunta: De onde vem esta inteligência que percebo aqui? "Descobrimos" os Espíritos, e eles nos falam, através das batidas e, mais tarde, pela escrita e inclusive pela fala, que são os mesmos homens da Terra, desprovidos do corpo material, mas que ainda "materializados consciencialmente", ainda andam por aqui, e têm notícias importantes "de mais além" para nos trazerem. Vamos ouvi-los, pois!
E os que eles nos contam é de um todo fascinante: colônias espirituais, mundos habitados, transmigrações planetárias. Lembram de quem foram em existência anteriores à mais recente, demosntrando que retornamos reincidentemente à carne, assim como nos falam das preparações que são realizadas para este retorno. Nos falam da sua compreensão de Deus, de suas Leis, de seu Amor e de sua Justiça. Falam de evolução constante antes mesmo de Darwin tocar no assunto, e extrapolam a noção, que neste pesquisador se resumiu à parcela materialista mais evidente (o que já significou grande avaço para a mentalidade humana, e significaria a fogueira trezentos anos antes). Nos trazem a definição que nos abre o coração ao Pai Criador: A Inteligência Suprema do Universo. Não mais um Deus antropormofizado, mas a intelectualização da essência humana, nos mostrando que o homem é um "ser pensante" e que esse ser sobrevive, uma vez que eles estão alí, conversando conosco, e pensam! Não me admiria que os sequiosos de domínios tivessem escravizado as consciências: alí estão os homens! Assim como não me surpreende que, após milênios de escravidão mental, o homem se rebelasse e "virasse o cocho" da meneira que vem virando.
Mas, aquele homem de espírito pesquisador raciocina, e nos diz: cuidado com as palavras dos Espíritos! São as palavras dos homens de outrora, eu mesmo conheci alguns deles enquanto ainda encarnados. Neles devemos acreditar tanto quanto nas nossas idéias. Submetamos tudo ao crivo da razão, daquilo que nos pareça lógico e consistente, e estaremos dentro da margem segura de nossa inteligência (que é a nossa essência).
Daí nasce o Espiritismo, uma doutrina filosófica, oriunda da observação e da comunicação com os seres humanos desencarnados, que nos trazem reflexões sobre o proceder do homem na Terra, e da nossa conexão inequívoca com Deus, uma vez parte integrante da Creação. uma doutrina que não nos diz "É assim", mas dialoga ("nos foi ensinado assim, se te parecer razoável, pode juntar-se a nós"), não nos supõe infalíveis, muito antes pelo contrário. E aquilo que eu tenho considerado o maior benefício do Espiritismo à Humanidade: nos revela o sentido oculto das escrituras, como Jesus havia nos prometido. Uma leitura espírita da Bíblia e, sobretudo, do Evangelho, nos revela um outro mundo, que se baseia na mensagem clara que Jesus nos deixou (e que ainda hoje não compreendemos) que é o Amor. Mas nos evidencia este amor onde a ilusão da matéria e da suposta unicidade da existência nos o oculta: na criança deficiente, nas "mortes" prematuras, nos desafetos familiares. Nos dá a esperança do melhoramento, da expiação das faltas ao invés de nos condenar sumariamente. Nos apresenta a Grande Família Humana, dispersa pelos infinitos mundos e dividida entre dois planos da manifestação da vida. Nos explica a diversidades de caracteres e de aptidões.
Enfim, uma doutrina que nos faz pensar, ao invés de pensar por nós. E só isso me basta para elevá-la acima de todas as outras, apesar de estarem todas na mesma dimensão da existência humana, cada uma dentro do seu contexto histórico e consciencial.
dele